Do que constam

25 de fevereiro de 2012

História sem fim (?)

Eles caminhavam alvoroçados pela calçada que ligava a Faculdade de Ciências Humanas à lanchonete, cujo lanche se dizia “feliz”. Eram estudantes de Direito. Intitulavam-se salvadores da pátria, curadores das misérias humanas. Alguns se diziam preocupados com os pobres, outros se proclamavam socialistas. Suas roupas eram de marcas famosas, seus pertences do mais alto padrão e sua pele ungida com os mais caros produtos. Mas mesmo assim eles gritavam, estufavam o peito e se diziam defensores dos direitos humanos e lutadores de um país mais justo.
Contudo, o peito veio a murchar, os fortes brados deram lugar a um silêncio reflexivo quando passaram diante de um mendigo, maltrapilho e aparentemente faminto.  A cena era chocante, pois a miséria estava estampada. Alguns do grupo fingiram que não viram, outros de fato não viram. Houve aqueles que fitaram os olhos e repetiram seu discurso de justiça social.
O mendigo, vendo aqueles rostos jovens, não titubeou e acenou com a mão para um daqueles rapazes. Espanto geral. Pela primeira vez a miséria humana fazia contato com a “elite” ou com os campeões da loteria biológica. A princípio, os jovens riram, mas a cena foi perturbadora demais para saírem sem atender o mendigo. Então se aproximaram do homem maltrapilho e conseguiram ouvir um sussurro: “Você seria capaz de dividir seus bens comigo?”
A voz do mendigo era fraca e publicava a dor da fome que ele sentia, contudo, foi alta suficiente para mumificar aqueles jovens estudantes. Pela primeira vez se sentiram impotentes. Pela primeira vez viram como são hipócritas.
Então, o velho pegou um jornal e enrolou-se e a história acabou como sempre...